sábado, 12 de janeiro de 2013

Transicionando - Um ano


Sou apaixonada por desenhos, faço os meus que logo irão decorar uma das paredes do meu futuro lar e para completar sou uma pessoa visual, então dessa equação sabia que qualquer mudança, por menor que fosse saltaria aos olhos.

Nos três primeiros meses da terapia hormonal (HRT) vasculhava minuciosa, detalhada e ansiosamente desesperada por sinais de mudanças em qualquer parte do corpo, mas até ali tudo não passava de expectativas, que a cada dia começavam a interferir no meu humor, com uma ponta de esperança de que não muito tempo adiante conseguiria identificar as primeiras mudanças.


A partir do quarto mês comecei a ver e sentir na pele a dor e o prazer de ser mulher. As maçãs do rosto começaram a aparecer, as mamas começaram a tomar forma e não pararam mais de doer, foi cedo demais até mesmo para a endocrino, mas dada a minha magreza a gordura logo se mobilizou e resolveu subir dando volume no peito.

Os gostos e as reações foram mudando, o preto deixou de ser a cor oficial dando espaço para um arco-íris de novas roupas e acessórios com infinitas possibilidades de combinações. Entendi porque choramos ao ver uma cena romântica, porque as vezes a TPM nos faz querer matar um, porque somos tão complicadas com coisas tão simples. Aprendi a importância de cabelos bem cuidados na vida de uma mulher, creme antissinais, hidratantes, perfurme fatal ,e claro, me vestir  de maneira confortável sendo atraente sem ser vulgar.

As mudanças na pele e cabelo tornaram-se evidentes a partir do oitavo mês, notadamente houve o aumento da sensibilidade, além de ter ficado mais fina, clara, macia e delicada. O cabelo mais fino, perdeu um pouco o volume que tanto gosto, mas ganhou um pouco no comprimento. Os pêlos do corpo passaram a ter a cor do sol, rareados, assim como na face.

No décimo descobri a mudança no metabolismo após uma taça de vinho, um Cabernet argentino. Ainda, me surpreendi com a diminuição da força e da resistência física numa corrida rotineira que seria de 15km, em virtude da surpresa, reduzida para 8km. O impacto da imagem contraditória do início do ano, com ombros e braços mega-definidos pela musculação ficou pra trás, a redução da massa muscular foi enorme em um ano, gosto da definição que tenho hoje.

Ainda existem alguns detalhes que preciso me acostumar como o desejo incontrolável por doces, neuroses bobocas com o corpo, não saber o que vestir, experimentar todas as peças do guarda-roupas e concluir que sou uma sem-roupa - mentira,  o aumento explicável do apetite e o arrependimento tardio por comer um pouco a mais.

Todas essas mudanças me fizeram olhar o mundo de uma maneira diferente do que estava habituada, um olhar feminino libertador, com novas expectativas, novas reações e comportamentos. Hoje, completo meu primeiro ano de uma vida inteiramente nova, vou apagar as velinhas.

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