segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Tudo bem ser diferente

Me sentir diferente ou saber que realmente sou diferente não me deixava triste, muito menos me amedrontava, o problema surgia quando um monstro assustador mostrava suas garras afiadas, um monstro chamado "Os Outros", era dele que tinha medo, então passava a brincar sozinha, me calava até que o perigo estivesse a algumas milhas de distância.

Às vezes revisito o passado e quando os episódios da minha infância mais remota ganham uma repaginada em preto e branco em minhas lembranças, noto como era cristalina a diferença que sempre senti em relação aos meninos, claro que não fisicamente, mas em meu interior lilás com desenhos de borboletas por todos os lados e um pouco de glitter para dar brilho.

Tudo bem ser diferente, sentir-se à vontade numa conversa feminina e completamente desconfortável numa roda masculina, ser alta ou baixa, magra ou recheadinha. Uma frase que considero incrível, atribuída a Bob Marley "Vocês riem de mim por eu ser diferente, e Eu rio de vocês por serem todos iguais", define bem a alienação a que estão tentando me submeter, me transformar num robô consumista, fútil e sem opinião.

Ouvindo a história da infância de outras meninas, identifiquei sempre o mesmo padrão de comportamento, o gosto por objetos, cores, desenhos, brincadeiras e um monte de agregados do universo feminino, somado ao comportamento, digamos, nada masculino. Desde o começo foi isso que senti, pertencia a um outro mundo, o mundo feminino.

Tudo bem ser diferente, gostar de lilás, borboletas, me vestir e me comportar como uma menina, ter um corte de cabelo diferente, não gostar de futebol, adorar batom, rímel, gloss. Nas diferenças foi onde encontrei os meus iguais, na igualdade foi onde encontrei minhas diferenças que me fazem única neste universo.

Sinto que os outros querem é que eu seja igual a eles, que peça o mesmo prato no restaurante, que assista ao mesmo filme, que leia a mesma revista. Eu quero liberdade, fugir do padrão, sentir a brisa no rosto, trocar a praia pelo campo vez ou outra, saborear o brilho da lua cheia, contar as estrelas lá no céu e fazer um pedido.

Tudo bem ser diferente, gostar de filmes cult, detestar o BBB e de fato não assistir a porcarias que me deixariam demente, cobrir o corpo de tatuagens e piercings, ou não ter absolutamente nada na pele. Tudo bem ter seus rituais diurnos, vespertinos ou noturnos, curtir música cazaquistaneza, não saber dirigir, trabalhar de roupa social e ir até lá de bicicleta.

Tudo bem ser Eu mesma, afinal, ser diferente é, acima de tudo, ser normal.

7 comentários:

  1. http://historiasparacuidardoser.blogspot.ca/2011/03/o-outsider.html

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  2. esse aqui tambem é legal

    http://www.digestivocultural.com/ensaios/ensaio.asp?codigo=93&titulo=Outsider:_quem_nao_se_enquadra

    beijos

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  3. Achei incrível o blog e a forma de escrever. Parabéns!

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  4. o blog nao é meu. mas o que esta escrito nele acho que tem a ver com o que vc escreveu no post.

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  5. Hi Anônimo, para escrever não só este, mas outros que já estão publicados procuro usar minhas experiências, faço uma breve pesquisa e com esse infinito de informações da net é difícil identificar material de qualidade que possa servir de suporte. Ainda, tenho meu jeito peculiar de escrever, olhando o lado bom das coisas, claro que há um lado B, mas prefiro deixar isso comigo e com a justiça e propor uma leitura um pouco fora do convencional trans, sem discursos inflamados, sem me vitimizar, enfim, um leve tapa na cara, do meu jeito: discreto.
    Bjinhos.

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  6. Naaaaada como sentir-se livre das amarras do mundo. ^^ Se dentro dos padrões humanos e sociais nós duas somos as "diferentes", não haveria nada do que eu poderia me orgulhar mais do que isso. Você escreve divinamente Gaby, *-* Amo-te.

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  7. Hi Dani, muito obrigada. Não lutamos para ser iguais, lutamos de verdade é para sermos diferentes desse padrão robotizado que a sociedade tenta impor, vamos nos libertar e viver nossas vidas felizes.
    Te adoro ˆˆ, bjinhos,
    Gabi.

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