domingo, 20 de janeiro de 2013

Arco-íris


Quando era pequena havia uma estória que meus pais contavam, dizendo o seguinte: Se um menino passa por baixo do arco-íris ele virava menina e vice-versa e no final do prisma, ainda, havia um pote de ouro esperando por aquele de alma afortunada que conseguisse alcançá-lo. Eles falaram não só para mim, mas também para meu casal de irmãos. Minha mente fantasiosa rezava para que aquilo fosse verdade e não apenas mais uma das centenas de lendas infantis.

Desde o nascer do sol e até que a última estrela apagasse seu brilho, rezava com todas as minhas forças para que chovesse e logo algum artista pintasse um prisma no cinzento céu bucólico de São Paulo, tão próximo de onde eu estivesse para permitir envolver-me em seu toque e que me permitisse atravessá-lo para que ganhasse minhas asas. Mas meus pés não conseguiam jamais alcançá-los antes que se apagassem lentamente, como se estivessem a me esperar para realizar meu sonho.

Foram meses esperando a chuva cessar, dia após dia, para poder sair correndo em direção à vida e atravessar os sete arcos de um renascimento cheio de cor, com sabor de arco-íris. Em dado momento, depois de tanto correr e jamais conseguir alcançar suas beleza a tempo, meu sonho foi aos poucos apagando suas cores restando apenas um cinza melancólico toda vez que os céus choravam por mim.

Nenhuma cor era viva o suficiente para me reanimar e meus desenhos ficaram todos tristes em tons multicoloridos de preto e branco, da mesma maneira que passei a viver. Não me importava mais se chovia, não sentia mais as gotas tocando meu rosto e minhas pernas cansadas de correr em vão não tocariam naquele momento o espectro policromático, meu sonho.

Tudo parecia ter ficado definitivamente em preto e branco. Artificialmente, voltei a acreditar na estória e um feixe de cor igualmente artificial começara a ressurgir em minha vida. Quanto mais fé colocava em minhas meditações, mais real e mais próximo de mim passaram a renascer os prismas apagados no tempo, podia tocá-los mas não estava preparada o suficiente para voltar a acreditar por mim mesma que aquilo seria realmente possível.

Com o coração puro, a mente liberta e a inocência de uma criança acreditando que dessa vez bastaria correr em direção ao meu sonho, haveria pelo menos um deles me esperando onde quer que fosse, sorrindo iluminado para mim, foi quando voltei a sentir os pingos da chuva e a cada passo que dava eles ficavam mais vivazes, para que agora, definitivamente, eu pudesse correr tão longe rumo ao meu sonho de liberdade.

Na última chuva em que o sol compartilhou seu amarelo e azul com as outras cinco cores delicadamente pintadas no céu, corri pela última vez, confirmando que aquela estória, ao contrário do que meus pais pensavam, era verdadeira. O pote de ouro não encontrei, mas tenho a certeza de que atravessei um arco-íris.

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