quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Olhares


Tenho o costume descompromissado e ingênuo de ficar observando as pessoas, seus comportamentos e atitudes quando estou em um parque, na rua ou mesmo num barzinho, é um costume meu. Não, não sou voyeur. O jeito tímido como os dedos se entrelaçam no casal cheio de segundas intenções, as pernas cruzadas tentando conter, em vão, o fogo ardente consumindo seu corpo, o olhar de desejo. 
O olhar me chama muito a atenção, por ser genuíno, verdadeiro, autêntico, confiável e imprevisível. É aqui que se escondem ou se revelam meus medos, as angústias, os sonhos, desejos, desafios e a esperança infinita de viver.

Os primeiros olhares que recebi foram os mais devastadores: os de reprovação, de negação, julgamento. Me preparei tanto esperando enfrentar tudo isso, que acreditei, fariam pouco efeito. Balancei algumas vezes, não nego, mas me mantive firme, invariável como um iceberg.


No olhar está o instinto, a beleza e o poder transformador de uma reação, está a testemunha das mudanças, a experiência dos bons e maus momentos, a delicadeza e o amor, a tristeza e a dor de quem carrega a história sofrida nas marcas do corpo.
Passada a fase inicial, ficou mais fácil conviver com os olhares de discriminação, uma realidade às vezes incômoda, mas, para mim, indolor. Então surgiu um feixe de esperança, um olhar de cumplicidade, que te conforta e aceita na sua forma mais humana.

Os últimos olhares me revelaram o paraíso, de onde ainda não consegui retornar, tamanha minha felicidade. Olhares masculinos de desejo. Aos 8 meses de HRT recebi o primeiro deles, um olhar de flerte que correspondi timidamente e que me fez derreter.
Lancei meu olhar sobre a vida, e hoje, este é o meu olhar...de felicidade!

domingo, 25 de novembro de 2012

Mudança de Nome (alteração do registro civil)

Dentre centenas de passagens do livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Marquez, esta é uma daquelas que me chamaram a atenção logo na primeira página "(…) O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo", parece ser o que acontece conosco.

Mesmo não usando meu nome civil com frequência, gosto dele, é um nome que espelha a personalidade que nunca tive: forte, poderoso e exclusivo. Me identifico com a delicadeza e a sonoridade do nome social, escolhido com muito zelo para ser o símbolo da minha recém-descoberta personalidade e também para me particularizar no seio social. Na Roma Antiga, os nomes de homens e mulheres eram atribuídos segundo uma convenção social de nomenclatura própria dos romanos. 

O nome existe para uma perfeita e exata identificação de uma pessoa na sociedade, não para causar-lhe constrangimento e situações vexatórias e preconceituosas. 


Quando há a necessidade da apresentação de um documento oficial, a situação me gera certo desconforto, pois aquela foto e o nome ali estampados como uma tatuagem, não são fidedignas da imagem atual.

A Carta Magna brasileira possibilita a alteração do nome ao estabelecer a dignidade da pessoa humana como fundamento de nossa república [01]. Não só a Constituição Federal, mas também o Código Civil e a própria Lei dos Registros Públicos possibilitam a alteração do registro civil do transexual após a cirurgia de mudança de sexo. 

A Lei dos Registros Públicos, embora não possua um dispositivo específico para tratar da matéria, também permite a alteração do registro civil ora em análise. A lei no 6.015/73 elenca a impossibilidade de registro, pelos oficiais de registro, de prenomes suscetíveis de exposição ao ridículo [02]


Não se alegando qualquer erro no assentamento, trata-se de ação de estado civil, cuja pretensão é a alteração do estado individual e a inserção da pessoa na categoria correspondente à sua identidade sexual. Então, a ação deverá ser proposta perante as Varas de Família e a sentença deverá ser averbada no registro civil do transexual, a fim de fazer constar seu novo nome e sexo em seu registro de nascimento.

A integra do texto jurídico, suporte para este post, está no link ao final da página.

Referências
01 Art. 1º, III, CF/88.
02 Art. 55, parágrafo único, Lei 6.015/73.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Encontro


Sábado, 17 de novembro de 2012
A data representa mais um grande passo nesta jornada, e marca o dia em que, após 33 longos anos de espera, finalmente, pela primeira vez, me encontrei de corpo e alma com minha mãe. Oitenta quilômetros separavam minha ansiedade da serenidade dela. Uma distância relativamente curta, mas para mim, tão longa quanto o infinito.

Estava apreensiva com este encontro, inevitavelmente aconteceria, a imaginação voava tão alto, que parecia ter embarcado num ônibus espacial com destino a marte, fantasiando qual seria a reação dela ao me ver  - um protótipo ainda - como realmente sou, a verdade visceral. 

Da minha parte havia certa tensão, dela, expectativas, pulverizadas no primeiro e longo abraço materno de reencontro, que me fez rever com nostalgia e com uma pequena e importante adaptação n# protagonist#, o filme da minha vida, e sentir mais uma vez todo o amor que ela, desde minha mais tenra infância, exalava.

E pela primeira vez consegui, do fundo de meu coração e da minha alma, sentir de verdade o mais puro e sublime sentimento, destas poderosas letrinhas – A-M-O-R – pairando ao redor de minha silhueta, completando o nostalgico e gostoso abraço que trocamos, no silêncio cúmplice daquele momento especial em que o tempo parou.


E o sábado chegou ao fim com esta paisagem...

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Curiosidade Humana

A curiosidade humana é o desejo do ser humano de ver ou conhecer algo até então desconhecido.[1] 

A curiosidade é algo que me fascina, acredito que todos nós somos naturalmente curiosos, e sou ávida em busca de respostas. Costumo ser sabatinada com perguntas de toda sorte, algumas simples, outras complexas, algumas constrangedoras (não para mim) e outras invasivas. Não me incomodo, pelo contrário, gosto de respondê-las, com certo cuidado para manter as pessoas no anonimato e as vezes fico espantada com a criatividade e a falta de informação das pessoas.


Tá certo que algumas vezes me sinto como uma muçulmana (não é discriminação, é apenas pra tentar chegar o mais próximo possível de como me sinto) nos EUA após os atentados de 11 de setembro, sendo interrogada por agentes da CIA, FBI, Serviço Secreto enfim. Somos pessoas normais como quaisquer outras, feitas de carne, osso e hormônios, com nossas diferenças que nos tornam únicos, nossos desejos, nossos complexos e a busca incessante pela nossa felicidade.
Numa conversa, após a palavra hormônio ser pronunciada, começam as expressões faciais, coceiras no couro cabeludo, beliscões na orelha, olhares perdidos acima da estratosfera olhando o sol ou a lua dependendo do horário e um megafônico “isso explica muita coisa!”, referindo-se ao desenvolvimento das mamas e as feições femininas, e isso também me explica vontades que antes de iniciar a HRT eu não tinha, como i) o desejo de comer tudo que é doce; ii) o desejo de comprar o mundo; iii) e vontade de discutir a relação, dentre outras milhares.

Que bom que agora faz sentido, pelo menos uma das dúvidas. Por que as outras três milhões continuam presas entre o cérebro e a língua, esperando o carcereiro . Pode perguntar, como diz a máxima popular, perguntar não ofende e compartilho a frase "Não são as perguntas que movem o mundo, são as respostas!"


Estas conversas são ótimas oportunidades para desmistificar, esclarecer, informar o que acontece conosco e o que nos faz mover montanhas em busca da nossa felicidade.



Referência
[1] Definição de Curiosidade no Michaelis

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Olá!


Olá, meu nome é Gabriella. Seja bem-vinda(o) ao blog.

O nome do Blog surgiu da minha paixão pela trilogia Matrix, evidente numa frase do diálogo entre Morpheus e Neo reproduzido abaixo:
Matrix está em toda parte [...] é o mundo que acredita ser real para que não perceba a verdade. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Nasceu em uma prisão que não pode ver, cheirar ou tocar. Uma prisão para a sua mente.
Ou seja, no filme há dois universos, um real e um paralelo. O nome universo paralelo já existia, após um tempinho pensado, cheguei a conclusão de que Opiniões vai de encontro a proposta deste Blog, compartilhar opiniões de uma pessoa que vive numa realidade paralela.

Já meu nome teve origem na minha amiga imaginária da infância, claro que gosto da sonoridade, da delicadeza e da suavidade que ele transmite.Tive certeza de que este seria o meu nome quando li o romance homônimo de Jorge Amado, recomendo!

Eu cresci, e bastante, assim como minha amiga imaginária. Seguimos por caminhos diferentes, ela tem a vida independente dela e eu a minha, mas ainda temos contatoNos encontramos com frequência para colocar o papo em dia, sabe como é, tem muita coisa acontecendo, além do mais, precisamos gastar nossas 20 mil palavras por dia (de acordo com pesquisa da psiquiatra americana Louann Brizendine), elas não viram bônus para falar mais 30 minutos com outra operadora - os homens agradecem!


Este universo paralelo em que vivemos desperta a curiosidade das pessoas a nossa volta. O objetivo do Blog é compartilhar um pouco da minha experiência de vida, tratar de assuntos polêmicos de forma branda, falar sobre o cotidiano e um monte de outras coisinhas interessantes, tudo bem, as vezes nem tanto.


Aos poucos compartilharei minha história de vida, meus gostos, meus desejos e medos, mas não  prometo que farei isso de forma escancarada (algumas vezes será necessário), estará sucintamente inserida nos futuros posts e tentarei ser o mais imparcial possível para fazer deste blog uma leitura agradável.


Este blog não é a caixinha de sugestões dos órgãos da segurança pública, portanto podem deixar sua contribuição sem medo de ter que passar a noite, ou alguns anos, numa cela de 2x2m com mais 20 pessoas.


Boa leitura!