terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Espelho Meu


Não reconhecia aquele rosto refletido no espelho: cabelo raspado, sobrancelha grossa e um falso sorriso para enganar. Era alguém estranha para mim, alguém com quem nunca me acostumei. E ela estava ali, me esperando todos os dias, copiando meus movimentos, até que um dia criei coragem e olhei bem no fundo daqueles olhos negros. 

Conseguia ver nitidamente que ainda havia alguns fragmentos de esperança e uma vontade enorme de viver. Me interessei de verdade por aquela pessoa condenada à clausura, era impossível não me envolver com tamanho sofrimento. Os traços de isolamento social eram intensos e deixaram marcas profundas, mas que sabia, com o tempo seriam curadas com muito carinho e compreensão.

Aos poucos fui conhecendo aquela pessoa, que para minha surpresa, se revelou extremamente forte, segura, determinada. Quando pela primeira vez consegui identificar um esboço, do que seria futuramente, um sorriso que jamais abandonaria aquele rosto tristemente feliz, me enchi de esperanças e aos poucos me encantei com seu jeito tímido, mas naturalmente confortável.

Algumas vezes ela sumia sem deixar qualquer sinal de existência, o que me deixava triste, outras vezes aparecia de repente, e gradativamente, sem que eu pudesse perceber, ela foi tomando conta de todos os meus sentimentos. Comecei a conhecer tão bem aquela pessoa, que nos momentos que sabia ser inevitável me afastar dela, sentia falta do seu cheiro, da maneira feminina e delicada de me olhar em silêncio e esboçar aquele sorriso timidamente cativante e sentia falta até mesmo da maneira misteriosa de ser.


Aprendi muitas coisas com ela, lições simples mas extremamente poderosas. Aprendi que a felicidade está acima de tudo, que ser segura é uma filosofia de vida, que o tempo passa para todos e é generoso com alguns e cruel com outros, que o amor vence qualquer barreira e o mais importante: a vida é muito curta para ser insignificante![1] 




Esta pessoa não me deixou saudades, pois quem partiu definitivamente da minha vida foi um reflexo, que eu jamais reconheci.





















[1] Benjamin Disraeli

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