sábado, 13 de abril de 2013

Canteiro de obras

Endócrino, psiquiatra, psicóloga, dermatologista, fonoaudióloga, cirurgiões. Cada um responsável por uma parte do processo de construção e reforma de uma nova pessoa, que envolve, ainda, a reformulação de uma nova identidade. O canteiro de obras que é o processo de transição.

Toda reforma dá a impressão de que o seu fim jamais chegará. Você não vê a hora de tudo, finalmente, poder voltar ao seu lugar original. Chega de poeira, Chega de plásticos cobrindo tudo. Sim, existe um fim e sua distância depende diretamente da sua ansiedade. Com a transição não é diferente, é tudo um pouco provisório: a dor nas mamas, o formato delas como no início da puberdade feminina, a fisionomia antes da FFS, a voz, o formato do corpo etc.

Sua família vai comentar e dar opiniões, seus amigos - pelo menos os mais próximos - farão a mesma coisa e, você, que é o objeto de toda essa obra ouvirá, nem sempre com atenção, as sugestões que estas mesmas pessoas não tiveram coragem de colocar em prática em suas próprias vidas. Faz a sobrancelha bem fina, eu deixaria um traço masculino bem evidente quando fizesse a FFS, eu malharia pra ficar bem forte. Não, eles não fariam isso se estivessem na sua pele.

Essa obra é dolorosa, mas é extremamente gratificante olhar as fotos da evolução mensal, e ver quanta diferença pode ser notada em pouco tempo. A progressão na maquiagem, na forma de vestir, o comportamento que vai se moldando à sua personalidade. E você ganha o dia quando, mais uma vez, vai até uma consulta e o/a médico/a te elogia dizendo coisas tão simples, mas que fazem uma diferença enorme na autoestima. Nossa, como você está feminina. Não consigo mais associar aquela imagem da primeira consulta contigo. Definitivamente não são a mesma pessoa.

As coisas começam a ficar mais fáceis após um ano. A aparência fica mais pra feminina e cada vez mais os traços vão se refinando, os hormônios em conjunto com o laser fazem rapidamente - a partir de dez ou onze meses - a eliminação dos pêlos indesejáveis, o corpo assume curvas bem definidas, a massa muscular diminui significativamente, mesmo para quem treinou pesado musculação, essa é a parte de fora da obra, o que todos vêem.

Internamente também há muito trabalho árduo a ser feito. Aprender a lidar com as mudanças de humor que a testosterona pode causar, entender melhor os sentimentos e as novas reações que você só descobre quando passa por alguma situação em que são exigidas. Aos poucos, ir moldando essa nova identidade que nasce da necessidade de adequar corpo e mente.

Deixei minhas expectativas do lado de fora, eram muitas e sabia que se alguma mudança não estivesse milimetricamente assimétrica conforme minhas expectativas, a frustração acabaria com minha autoestima e até mesmo com o melhor dos profissionais. Chegou um momento em que o mais importante seria ter rosto e corpo femininos aos meus olhos míopes e foi isso que consegui, o melhor resultado possível com os melhores profissionais disponíveis e acessíveis. 

Agora que a obra está quase acabando, chega de fazer aquela cara de Desculpe o transtorno, estou fechada para reformas.

3 comentários:

  1. adorei o post. gostaria que um dia vc fizesse um post sobre vida profissional.

    beijos

    mila

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  2. Oi Mila, que bom que gostou. Comecei a escrever sobre minha vida profissional, mas como estava num momento um tanto emotiva acabei escrevendo com a emoção em vez da razão. Mas vou me esforçar e em breve colocarei sim um post sobre vida profissional.
    Bjinhos,
    Gabi.

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  3. Lindo Post, Parabéns..

    Beijos
    Betina

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