terça-feira, 19 de março de 2013

Persona non grata

O lado bom de ser persona non grata é, não ter mais a obrigação de ir à programas de índio, confraternizações de família, só porque o fulano ou o sicrano estarão lá, e sua família impõe sua presença - se você não for fica chato. Alguém talvez lembrará de te convidar e pode ter certeza, de que o assunto da rodada (dessa e de todas as próximas),  será, exclusivamente, Você.

Me tornar persona non grata apenas mudou o destino das minhas viagens quinzenais, me tirando de um lugar onde me sentia obrigada a frequentar, para um lugar onde quero, por vontade própria, estar todos os dias: minha própria vida.

Recentemente descobri que me tornei uma anticristo para a parte ortodoxo-cristã-ateu da família. A sanção imposta foi apenas um indicador simbólico de descontentamento, do desgosto com a minha presença, pela evidente feminização das características físicas, dos trejeitos, da voz e até do vocabulário, cumpro meu exílio longe das fronteiras daquela cidade.

Mantenho uma relação diplomática a fim de evitar conflitos armados e quem sabe o início da terceira guerra mundial, explosão da bomba atômica.  Sim, senhor! Não, senhor! Agora é minha vez de experimentar a sensação de liberdade, sentir o vento no rosto, chega de passividade bovina, prestes a ser abatida e não lutar pela vida.

Poderia ter pelo menos um motivo justo ou uma chance para que eu pudesse me defender, se bem que resultaria em uma conversa com conclusões vazias da outra parte. A Convenção de Viena foi seguida à risca, com todos os seus protocolos e minha expulsão do coração e das lembranças decorando o aparador da sala. A vida segue sorridente.

Curto com o maior prazer meu exílio. Vou onde quero, minhas amizades não são mais questionadas, sou respeitada. Admito: não é coragem. É viver a vida enfrentando as escolhas, é olhar para trás e ver que venci meus maiores medos com um sorriso capaz de iluminar a China, de tão poderoso, é ser feliz da maneira mais pura e sublime possível.

Nada me dá mais prazer do que ser persona non grataexpulsa do paraiso, uma mulher sem juízo, que não se comove com nada, cruel e refinada, que não merece ir pro céu, uma vilã de novela, mas bela, e até mesmo culta, estranha, com tantos amigos e amada, bem vestida e respeitada. Aqui entre nós, melhor que ser boazinha é não poder ser imitada [1].

[1] Martha Medeiros.

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