Os hormônios transformaram meus sentimentos em uma montanha-russa. No começo, uma subida íngreme apontando para o céu e uma vista maravilhosa, o vento batendo no rosto, sensação de liberdade. Em busca de emoção, aproveito para curtir o momento. Alguns metros adiante, uma descida vertiginosa que te tira do assento e troca todos os órgãos de lugar. A mudança do antiandrógeno três semanas atrás, desencadeou pela primeira vez esse processo de sobe-e-desce, loopings sentimentais numa velocidade alucinante.
Andar na montanha-russa provoca reações de um misto de medo e excitação. Na primeira semana após a troca do medicamento, o medo fez as borboletas no estômago se agitarem, medo de que a testosterona escalasse os trilhos e me devolvesse parte, do muito que já ficou no caminho. Senti vontade de erguer os braços e gritar até perder o fôlego.
A pior sensação não é a montanha-russa em si, mas a expectativa da espera das reações com a mudança. Não sei mais como conjugar este verbo, se no presente ou no passado, Eu costumo/costumava ser uma pessoa controlada, zen. Em momento algum imaginei que certas emoções pudessem fugir ao meu controle. Cada vez que o trem desabava, junto estavam meus sentimentos. O primeiro looping, uma curva acentuada para a esquerda e outra para a direita, mais um looping e segue a loucura hormonal.
A segunda semana me dava a sensação de que seria lançada no abismo, que demoraria uma eternidade para chegar ao fim do passeio. Essas duas semanas me mostraram que mulher é bicho complicado e a explicação toda está na testosterona, ou melhor, na quase ausência dela.
A parte mais gostosa da transição são as próximas curvas, o que ainda está por vir, as descobertas de uma nova vida, de sentimentos que não me permitia sentir de tão ofuscada que estava minha visão em relação à vida e que imagino foram trazidos à flor da pele com as "pílulas da felicidade", como costumo chamar carinhosamente meus hormônios.
A terceira semana, que se encerrou no domingo (10/mar/13) foi sem dúvida a pior desde o início da transição. E em questão de segundos, o percurso acaba e Eu não me lembrava mais de todos aqueles sentimentos que antecederam o fim do trajeto, a adrenalina ainda corre pelas veias, dou gargalhadas sem saber o porquê, pois isso é viver. E foi assim que me senti quando finalmente abri os olhos e desci do carrinho.
Hormônios...essa montanha-russa.
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