sexta-feira, 8 de março de 2013

Não temos outro mundo para o qual nos mudar


Chegou um determinado momento da vida em que me flagrei sem resposta para uma pergunta trivial que havia anos me fazia: O que quero dessa vida? Para mim, jamais foi uma questão filosófica, ou uma pergunta que demonstrasse que Eu estivesse à deriva, simplesmente estava me desapegando do que é desnecessário para ser feliz, tentando achar algum sentido para que não me transformasse apenas em uma fotografia e em uma lembrança que se perderia na insensibilidade do tempo.

O que Eu queria de verdade sempre que conseguia chegar em uma resposta, era me mudar para outro mundo, mas que fosse um onde tivesse, pelo menos, um salão de beleza, um shopping, uma boa academia, um barzinho e uma ótima biblioteca. Não deixaria de ser urbana, não deixaria de me cuidar. Teria minhas crises de TPM todos os meses, me sentiria deprimida e alegre, eufórica e apática, entusiasmada e distante. Distante de tudo de ruim que poderia acontecer.

Quero acreditar que poderia viver plenamente meu Eu, ninguém ficaria me despindo com o olhar, ou talvez ficassem, porque continuaria sendo diferente, porém, de outra maneira. Mas seria meu mundo, digno de quem não tem preconceitos, pelo menos não transfóbico. Poderia andar tranquilamente pelas crateras, flutuar como uma pluma, e não me ouviriam pedir por socorro. "Houston, we have a problem!".

Ainda quero acreditar que meu mundo seja aqui, mas meu mundo na verdade é onde me sinto bem, onde me sinto segura, onde tenho meus direitos e minha dignidade respeitados, ou seja, talvez em algum outro país deste mundo onde vivemos, talvez no estado vizinho, talvez do outro lado do mundo, talvez em outro mundo mesmo. Talvez, talvez, talvez…incertezas, na esperança de que serão logo resolvidas.

E quando me perguntassem se estaria de malas prontas para deixar todas as minhas experiências aqui e começar uma vida nova, em um mundo onde nada seja certo. Com certeza. Levaria meus vestidos e meus poucos, porém, surrados e valiosos livros, tomara que seja quente, mas não muito, para não me sufocar. Abriria mão do conforto e da falsa segurança, mas teria a dignidade que a Constituição e a sociedade me negam aqui, não seria tratada como uma anomalia, seria tratada com o mesmo respeito que as demais pessoas merecem.

Meu novo mundo seria um lugar onde tomaria banho de chuva, seria um mundo onde não existiria discriminação, seria um lugar florido, repleto de música e poesia, não existiria tristeza, nem depressão. Haveria muita dignidade, respeito e muita cor. Seria um lugar agradável e aconchegante, completamente diferente do mundo em que vivo atualmente.

Mas a verdade, como escreveu Gabriel Garcia Marquez, é que "não temos outro mundo para o qual podemos mudar".[1]

[1] Gabriel Garcia Marquez

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