quarta-feira, 10 de julho de 2013

Interpessoal - parte I


Não é preciso muito esforço para que as pessoas te tratem de acordo com o gênero com que você se identifica, basta um pouco de bom senso e boa vontade. Às vezes nem é preciso base, delineador, batom, sombra ect…basta pedir para quem te atende que te trate de tal forma, pra mim funcionou muito bem.



Costumo ficar muito tensa quando entro pela primeira vez num lugar, entretanto, já estive várias vezes neste mesmo laboratório, mas desta vez a diferença se resume ao tempo e às mudanças hormonais cada vez mais acentuadas. Semana que antecede consulta com endocrino é semana de exames. A última vez que estive no laboratório foi há seis meses, ainda com rosto e roupas masculinos - ok, nem tanto, e um documento que apresenta o nome de alguém que cedeu seu lugar nessa vida pra que eu pudesse viver.

Retorno ao laboratório e desta vez com rosto e roupas femininas, o oposto do que se viu algum tempo atrás. O documento continua o mesmo e esse é o momento que deveria ser constrangedor, só que não. A relação de exames com meu nome social e o documento com meu nome civil, peço pra recepcionista que na hora de me chamar, o faça pelo nome social, e assim foi, pra minha surpresa, sem constrangimentos e com minha dignidade e condição de gênero respeitadas do início ao fim da coleta de sangue.

Acho um ato tão simples de ser executado e que não requer esforço, basta um pouco de bom senso e vontade pra que todos continuem felizes, é uma linha tênue entre o céu e o inferno. As pessoas não entendem o quanto isso machuca, basta uma letra A nos verbos, adjetivos, substantivos, etc., simples assim, mas há quem insiste em não fazê-lo, e é nessa hora que o chão pode desaparecer sob seus pés, como em algumas ocasiões que passei.

Ás vezes não é preciso maquiagem e roupas femininas pra te tratarem como mulher. Basta um pedido singelo e aguardar o desfecho, apreensiva. Nas três ocasiões em que estive na clínica onde realizei a feminização facial foi assim, apenas solicitei à recepcionista que me anunciasse como Gabriella e quando estivesse liberada minha subida que também utilizasse esse nome que ecoaria por todo o saguão do prédio, mais uma vez minha solicitação foi atendida. Todos felizes, continuamos cada uma em seus afazeres.

Pude perceber que as pessoas quando querem te tratam de acordo com sua identidade de gênero, foram poucos os lugares onde tive um tratamento não digno, e são nestes lugares que não voltei a colocar os pés. Minha autoestima e dignidade são mais importantes que um sabor que pode ser reproduzido em casa ou em outro local que te trate como mereces. 

Quando ocorre de me tratarem no gênero masculino, talvez esse seja o melhor que essas pessoas conseguem fazer do alto de seus preconceitos e ignorâncias, retribuo com um sorriso, um muito obrigada e -10% na conta.

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