terça-feira, 11 de junho de 2013

(Não) Temos vagas


Custo a acreditar que estamos fadadas ao subemprego, aos salões de beleza, à prostituição. Somos tão capazes quanto qualquer outra pessoa, entretanto é mais fácil fechar os olhos para um problema do que encarar a realidade, e é isso o que a iniciativa privada (não generalizando) nos oferece como opção, retirando nossa capacidade de viver a plenitude profissional.

Quando Eu era pequena, tinha um sonho profissional que era ser auditora. Adorava brincar de escritório, organizar papéis, lápis, canetas e emitir meus pequenos relatórios em riscos ilegíveis de quem está aprendendo a escrever. Me formei em Ciências Contábeis, estudei inglês, cursei uma pós-graduação, dedicava horas e mais horas a estudar, arregacei as mangas, fui à luta e venci.

Em 2004 consegui entrar para uma das Big 4 de auditoria, onde passei sete anos da minha vida. Vida pessoal e projetos que ficaram do lado de fora da porta quando assinei o contrato de trabalho, o que me identifica, palavra por palavra esta passagem do filme MIB Homens de Preto.

Adorava o trabalho e em meados de 2010 com as diversas ações que trouxeram à tona o tema diversidade sexual, a empresa implantou mundialmente uma política de inclusão realmente eficiente. Todos são bem-vindos, desde que sejam capazes de passar pelo processo de seleção esmagador e realmente não importava nenhuma questão de identidade de gênero, toda pessoa era uma pessoa e com suas diferenças respeitadas poderia contribuir igualmente para o desenvolvimento da empresa.

Em meados de 2011, no auge da minha crise depressiva, abri o jogo e me senti de fato acolhida e senti na pele o quanto a política de inclusão estava enraizada nas pessoas ao meu redor, embora em alguns momentos Eu não estivesse livre de brincadeiras, em outras palavras, bullying. Pude também notar a mobilização e todo o esforço que o RH e o alto escalão estavam fazendo para me ajudar durante o processo de transição. Fiz apenas dois pedidos: 1) não seria bandeira de nenhum movimento; 2) não gostaria de ter meu nome divulgado nos comunicados internos.

Embora estivesse num ambiente agradável de trabalho, para algumas pessoas a política de inclusão conflitava diretamente com suas crenças, e isso me fez pegar nojo de certas pessoas que se achavam superiores a tudo. No início de 2012 tomei a decisão mais difícil, me desliguei da empresa e segui meu rumo, entrando de cabeça nessa jornada maravilhosa da transição, trabalhei o ano de 2012 inteiro me escondendo atrás de uma farsa masculina. Como não conseguia mais me expressar ao final de 2012 optei por buscar mais uma vez meu sonho profissional, porém no serviço público.

As entrevistas de que participei posteriormente, estavam mais para um programa estilo Jô Soares, onde me recusava a responder perguntas de cunho personalíssimo e os nãos e outras desculpas esfarrapadas fizeram parte frequente da minha vida.

Atualmente dedico as horas do meu dia na busca do meu lugar ao sol no serviço público, contudo, isso não quer dizer que estarei num ambiente livre de preconceitos, onde terei aceitação incondicional, onde serei respeitada, posso estar enganada, como dizem os mais arrojados, regras são feitas para serem quebradas e no serviço público há muitas, que não serão quebradas comigo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigada pela visita.